Complicações após contaminação pelo Covid-19
Comparada, inicialmente, a uma pneumonia, a Covid-19 tem efeitos que vão muito além da infecção pulmonar, que podem deixar sequelas depois da fase aguda da doença.
A Covid-19 é uma doença complexa, que exige tratamentos para diversas partes do corpo ao mesmo tempo a fim de evitar a morte dos pacientes em estado mais graves.
“É uma doença multissistêmica. Nenhum órgão vai escapar”. Diz, Rosana Richtmann, infectologista do Intituto Emílio Ribas. ”Há a ação direta e indireta do vírus e ainda os possíveis efeitos colaterais dos medicamentos usados para tratar dos pacientes”. O vírus se conecta a um receptor específico que está presente nas células do sistema respiratório, intestinos, rins e fígado. Nessas áreas, o efeito do invasor para destruir as células é direto e localizado.
Segundo Richtmann, a Covid-19 pode ser comparada mais adequadamente a sepse, doença que ocorre quando a resposta imunológica para combater uma infecção localizada fica descontrolada e acaba por espalhar a infecção pelo corpo.
Os pulmões são a área mais afetada. Essa infecção pode deixar cicatrizes no pulmão paciente, a fibrose pulmonar, um endurecimento do tecido que dificulta o funcionamento do órgão.
Os impactos da infecção nos rins, podem também sair do hospital com os pacientes. Entre 3 a 9% dos pacientes de Covid-19 desenvolvem insuficiência renal aguda e em, em alguns casos necessitam de diálise.
De acordo com Richtmann, grande parte dos pacientes se recuperam dos danos nos rins e saem do hospital sem a necessidade de continuar fazendo diálise, mas os infectados diabéticos ou hipertensos, que já possuem a função renal comprometida em algum nível, precisam seguir o tratamento por algum tempo.
Relatos de médicos ao redor do mundo, apontam ainda inflamação no cérebro, lesões na pele e arritmia cardíaca na fase aguda da doença. A dor muscular também pode aparecer como consequência da má distribuição do oxigênio pelo corpo.
A estadia dos pacientes de Covid-19 em estado grave na UTIs tende a ser mais longa. A passagem de um enfermo pela UTI dura, em média, cerca de 5 dias. Para aqueles que necessitam de cuidados especiais, a duração vai de 3 a 4 semanas. Esse período de internação pode levar a “síndrome pós-cuidados intensivos”, um conjunto de alterações físicas, cognitivas e psiquiátricas, que fazem com que a recuperação do paciente seja mais demorada.
Um dos maiores efeitos é a perda da massa muscular, que faz com que os pacientes fiquem mais fracos, segundo Laerte Pastore Júnior, coordenador da UTI do Hospital Sírio Libanês, em São Paulo.
“Os pacientes sedados e imobilizados por um tempo muito grande, demoram para acordar. Há ainda um consumo do músculo pelo processo inflamatório. Esse paciente acorda muito fraco”. Pacientes mais velhos precisam de um período mais longo para a recuperação e podem adquirir perda da motilidade ou até disfunção cognitiva. A sedação, explica Pastore, é usada para facilitar a adaptação do infectado ao ventilador. “Os sedativos têm efeitos colaterais que, na maior parte dos casos, podem ser contornados com outras medicações. É comum que os pacientes acordem confusos e com ciclo de sono desregulado”.
A recuperação passa por sessões de fisioterapia e ajustes nutricionais, mas o tempo para minimizar os efeitos negativos é incerto. Depende do tamanho da lesão no pulmão, tempo de UTI e das condições prévias dos pacientes.
Fonte: Folha de São Paulo, 12/05/2020, por Everton Lopes Batista.